Recentemente uma amiga no final de gestação chegou feliz me contanto que havia marcado a cesárea e eu questionei: "Mulher, por que não espera pelo menos que o bebê indique o tempo certo de sair?" e ela me respondeu: "Fiz a mesma coisa com o meu primeiro e foi ótimo". Sinceramente não entendo este medo de encarar um parto normal, mas o pior é que realmente as cesáreas são programadas sem consultarmos o principal envolvido: a criança, apenas pela conveniência de mãe e médico.
Talvez seja a nossa mania de querer controlar tudo, não sei. Tive 02 filhas de parto normal, e juro, não é esse monstro que pintam não. Além disso, o seu envolvimento com o processo é tamanho que não tem nada que pague a emoção que a gente sente quando todo o seu esforço resulta num choro conjunto seu e de seu filho.
Por esta razão, quando vi essa matéria achei legal publicar. Não é tão grande, mas vale a pena ler e refletir.
Saiu na Folha de São Paulo de hoje 23/04:
GABRIELA CUPANI
REPORTAGEM LOCAL
Cada vez mais comuns, partos agendados antes da 39ª semana de gestação elevam risco de problemas para o bebê.
Estudo da Unifesp com 6.000 recém-nascidos mostra complicações nas cesáreas antecipadas, que significam 60% dos partos.
Cresce no Brasil a prática de marcar o parto para assim que a gestação completa 37 semanas, momento em que o bebê deixa de ser considerado prematuro.
Um estudo da Unifesp mostra que cerca de 60% dos nascimentos acontecem com 37 ou 38 semanas de gestação -quando a gravidez dura cerca de 40 semanas. Segundo consensos internacionais, o ideal é esperar no mínimo 39 semanas. Antes disso, aumentam as chances de complicação para o recém-nascido como desconforto respiratório e icterícia.
"A tendência é mundial. Está havendo uma antecipação do parto. Antes, os bebês nasciam com 39 ou 40 semanas", diz Cecília Draque, neonatologista do departamento de pediatria e neonatologia da Unifesp, uma das autoras do estudo.
Segundo a pesquisa, o número crescente de cesáreas eletivas (aquelas em que é possível escolher a data) tem levado ao aumento dos partos com idade gestacional inferior à ideal. "Hoje não se espera a mulher entrar em trabalho de parto", diz o obstetra Marcos Tadeu Garcia, diretor da clínica de ginecologia, obstetrícia e neonatologia do Hospital Ipiranga. "Médicos e mães optam pelo conforto da agenda. Isso nos assusta, porque esses bebês nascem sem estarem prontos."
Bebês que nascem antes do término da trigésima-nona semana têm mais risco de precisarem de intervenções terapêuticas do que os que nascem bem no fim da gravidez. O estudo mostra que ficam mais dias internados e vão mais para a UTI. "A interrupção da gestação antes de 39 semanas só deve ser feita com estritas indicações médicas", diz Draque.
A pesquisa seguiu mais de 6.000 recém-nascidos em uma maternidade particular de São Paulo. Os bebês não tinham anomalias congênitas e as mães passaram por pré-natal.
"Conheço casos de médicos que marcam até para a 35ª semana. Qualquer coisa é desculpa: ou vão viajar para algum congresso, ou não querem que a mãe encha a paciência deles ligando às duas da manhã. A mulher também pode insistir, às vezes a avó manda marcar, ou a mulher não aguenta mais o fim da gravidez... enfim. O bebê vai precisar de um atendimento, mas o médico já passou a responsabilidade para o berçário", diz Renato Kalil, obstetra do Hospital Albert Einstein. Segundo Kalil, 12% dos bebês não prematuros nascidos de cesárea passam pela UTI. De parto normal, só 3%. "O parto normal está mais falado, mas a indicação de cesárea continua a mesma baixaria", afirma.
"Muitas vezes a própria família pressiona o médico", afirma Renato Augusto Moreira de Sá, presidente da comissão de perinatologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Antecipar o parto também é perigoso porque há chance de erro de cálculo da idade gestacional. Se a mulher não fez um ultrassom no início, que estima com maior precisão essa idade, ela pode estar grávida há menos tempo do que pensa.
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